É a sina de qualquer aprendiz: antes de se conseguir criar obra nossa, passamos eternidades a copiar (muito) os que já o fazem. Para perceber como se chega lá, para exercitar os músculos até conseguirmos andar sem as rodinhas de apoio.
Os desenhos por aqui começaram depois dos 30 e, só muito recentemente, a surgir de forma regular. Qualquer ideia que tenha obriga-me a pesquisar imagens de referência e qualquer elogio à execução (por muito bem que saiba) é o mesmo que dizer “Gostei muito da música!” a um concorrente do Chuva de Estrelas. Mais do que aprendiz de artista, sinto-me como uma cover band do Pinterest.
Mas ontem foi diferente.
Quis o acaso que o fabuloso Capitão Romance começasse a tocar enquanto rabiscava ondas e um barquinho – e percebi que este mar me pedia para ser preenchido com os versos ondulados, em vez de mais linhas ou pontinhos.
E lá estava ela: a euforia da criação. Mesmo quando não é cópia, a criação nunca é realmente 100% nossa, porque o que somos senão todas as ideias, imagens e sons que nos despertam fragmentos de nós mesmos ao longo do percurso?
Mas sabe bem fazer nascer algo que não existia antes de o materializarmos – ainda mais quando nasce de sementes que nos dizem tanto e que, digo eu, geram as raízes mais fortes.