Desde pequena que tinha a pancada de querer ter tudo registado – conversas, datas, rostos, artefactos… Pensava que bom, bom, era cada um de nós ter uma espécie de mecanismo que fosse registando tudo por escrito, qual estenógrafo interno, em forma de guião ou semelhante.
Como acontece com todas as nossas ideias ultra-originais, já fizeram o filme.

Sei que ainda não tinha chegado aos 20 e já queria escrever a minha autobiografia. Ou começar a. Uma espécie de work in progress de décadas em vez de uma reflexão posterior. (Sim, Marta, isso já se faz. Chamam-se diários.)
E essa vontade foi agora reavivada quando comecei a ler a autobiografia de um tio-que-na-realidade-é-primo-em-segundo-grau, em tom de legado para as filhas.
Vou-me perdendo em narrativas de uma família que é só metade minha e que mais parece saída de um qualquer romance de realismo mágico sul-americano.

Conhecer raízes que ignorávamos é uma sensação extraordinária. Porque, com os anos, vão-se perdendo ramos da família e, com eles, as histórias insólitas e os familiares burlescos.
Mas todos temos a tia ou o avô que conhece as histórias todas e se lembra dos nomes dos trisavós. Façam-lhes perguntas. Muitas. Tirem notas. As deles e as vossas.

A era digital é prodigiosa no que diz respeito a meios para registar tudo (vide fotos de todas as refeições do alheio em todas as redes sociais). Mas parece-me que esses mesmos registos se perdem (ou se esquecem) bem mais depressa do que os seus antepassados analógicos.

Tudo isto em defesa das histórias. Das nossas, que hoje estamos cá e amanhã não.
Digo eu, que tenho veia de Cronista. E que sei o quanto vale a micro-História enquanto legado.

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