Quando era pequena adorei descobrir que o 8 de Dezembro era o antigo Dia da Mãe, porque era esse o dia de anos da minha mãe. Como agora é apenas um feriado religioso (aos quais nunca ligo) e já não há festa de anos, celebro-o ao fazer sempre a árvore de Natal dia 8. Não deixa de ser uma festa…!

Já tinha editado este texto no extinto Território Literário mas não podia deixar passar o dia de hoje sem o incluir aqui, no meu cantinho:

os pés da minha mãe

Quando era pequena e andava, como sempre adorei andar, descalça pela casa em dias quentes de Verão, perdia o que na altura me pareciam horas a olhar para os pés da minha mãe, também eles descalços pois o corpo do qual faziam parte não suportava quaisquer amarras mesmo que sob a forma de tecidos ou calçado. Olhava para os pés dela e comparava-os aos meus. Para além da óbvia discrepância a nível de proporções, a diferença que mais me chamava a atenção (diria até, a que mais me chocava), estava na textura. Os pés da minha mãe tinham as palmas revestidas de pele que, com o passar do tempo e o passar por estradas, se tornara áspera, dura, formando o que me pareciam ser quase cascos. “Os meus pés nunca vão ficar assim,” pensava eu. “As bailarinas têm pés suaves, como as princesas.” Mais tarde vim a descobrir, por experiência própria, que o que as bailarinas têm são bolhas infernais…

Mais tarde ainda apercebi-me de que também a minha mãe tinha o porte e a postura das princesas da dança. Os pés eram práticos mas movimentava-os com a melhor das elegâncias.

Os pés da minha mãe já não andam e não consigo deixar de sentir que cada um dos seus calos vai, a pouco e pouco passando para os meus próprios pés, à medida que percorro o mesmo tipo de estradas por onde ela andou. Só espero que com a mesma graça.

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