A minha loucura é amor pela humanidade.

Vaslav Nijinsky (1890-1950)

Antes dos Nureyevs e dos Baryshnikovs, havia o Nijinsky.

Bailarino e coreógrafo, genial e carismático, a sua sensibilidade extrema – vista pelo resto do mundo como fragilidade emocional – e o seu nervosismo fizeram com que, a pouco e pouco, tenha sido considerado como louco e passado o resto da vida a entrar e sair de senatórios.

A Assíro & Alvim (abençoada seja…!) editou recentemente os diários do bailarino. A escrita, de frases muito curtas, constantes repetições e incoerências que vão aumentando ao longo do livro, sugere uma demência crescente. O curioso é que, apesar de a forma que usa para explicar o seu mundo interior ser “estranha”, todas as observações que faz sobre o que o rodeia são de uma lucidez imensa, embora, por vezes, possam parecer absurdas. Exemplo: “As instituições para pobres usam farda para os pobres terem medo delas.”

Acaba por ser tal e qual as crianças, que vêem tudo e todos não só melhor mas mais do que os adultos e a quem estes últimos não se cansam de dizer “não é assim! Os elefantes são cinzentos, não os podes pintar de amarelo!” Porquê? Porque não ver o mundo para além daquilo que se “vê”? Se nos tivéssemos ficado pelo conhecimento empírico ainda achávamos que o Sol girava à volta da Terra.

Ao longo do livro, Nijinsky diz constantemente que os outros enlouquecem ou são infelizes porque pensam demasiado mas ele não, porque não pensa: sente. (Excepção para Nietzsche, que “enlouqueceu porque, no fim da vida, percebeu que tudo o que tinha escrito eram asneiras”…) Tudo o que diz é sentir o mundo, as pessoas, a mulher, as filhas, o público, deus. Percorre as linhas a afirmar um amor incondicional por tudo aquilo que sente e um desejo de ajudar e salvar a humanidade, ensinando a todos a nossa natureza divina.

O que há de louco nisso?

5 thoughts on “o deus da dança

  1. can’t help it… a primeira vez que vi o homem caí da cadeira… absolutamente fascinante – e nunca o vi dançar sem ser em fotos…! 🙂

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  2. O único Nijinski que conheço é o teu gato, por isso não posso dizer grande coisa. É uma das grandes desvantagens de se estar persa numa escola de gente parva perdida no fim do mundo; as universidades também têm gente parva, é verdade, mas…bem, o facto de a população estudantil ser 20 vezes maior que esta ajuda a que se encontre sempre alguém com cabeça, tronco e membros com quem trocar algumas ideias. Nem que sejam só ideias semi-inteligentes.De qualquer modo, Nijinski era bem capaz de ter sido um génio, não da inteligência social, política ou ciêntífica que são sempre tão bem aceites e recebidas, mas da inteligência emocional. Este tipo de inteligência, demonstrado por pessoascomo Madre Teresa de Calcutá, quando não é postoao serviço de outros na procura de minimizar o sofrimento,como ela fez, e é usado como meio de comunicação de emoções, beleza e harmonia através da arte é sempre ridicularizado à força toda. Provavelmente o único problema do homem era sentir demais, o que pode causar tantos ou mais problemas que pensar demais.A dança seria, então, o seu meio de soltar esses sentimentos, um escape para algo presodentro de si, algo que talvez não soubesse interpretar ou transmitir aos outros. Ou talvez fossem os outros que não soubessem interpretar o que ele dizia através da dança. Na eventualidade de Nijinski ter sido mesmo louco, o facto de ele ter reconhecido que as fardas são um modo de condicionar as acções humanas pela ligação imediata de um simbolo a um significado, a meu ver, deixa um bocado de dívida. Afinal, o homem podia ser louco mas de certeza que não era estúpido.Bem, espero não ter dito nenhuma asneira nem ofendido o Nijinski e os seus admiradores. São apenas algumas considerações de alguém que teme que o prazo de validade do seu cérebro tenha expirado. Abraços, Valéria.

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  3. Oh! Pobre criatura, tudo se explica agora…Triste signo sob o qual se pode nascer…Ningém merece tal destino…=p He! He! He!Por acaso é estranho: algumas das maiores e mais peculiares/excêntricas personagens da história mundial eram peixes. Curioso, não é? Valéria ***

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